Novo tratado internacional sobre crimes cibernéticos não nos protege e coloca nossos direitos em risco
Em fevereiro de 2024, após dois anos de negociações, a Organização das Nações Unidas (ONU) apresentará um novo tratado internacional para combater o crime cibernético. No entanto, especialistas e ativistas de todo o mundo alertam que o documento tem falhas importantes que podem ser usadas para validar abusos de direitos humanos.
As falhas do tratado são múltiplas. Por um lado, Estados autoritários como a China, o Vietnã, Paquistão e Federação Russa promoveram uma abordagem ampla do conceito de crime cibernético, com limites pouco claros, que pode ser utilizado para persecução de atos legítimos on-line. Embora alguns Estados tenham se manifestado contra essa perspectiva, até o momento eles não foram capazes de garantir um conjunto de padrões mínimos necessários para assegurar a coexistência democrática e o respeito aos direitos fundamentais.
Em sua forma atual, o tratado carece de salvaguardas suficientes de direitos humanos para evitar que seja invocado para restringir direitos civis e políticos, como a liberdade de expressão on-line. Carece também de uma efetiva perspectiva de gênero, abrindo a porta para a perseguição de pessoas por expressarem sua orientação sexual ou identidade de gênero on-line em países que punem pessoas LGBTQI+, como mostra a recente pesquisa da Derechos Digitales e da APC.
Pelo contrário, em sua forma atual o tratado poderia limitar a liberdade de expressão ao sancionar o discurso legítimo sob o pretexto de combater o crime cibernético, como tem sido amplamente advertido por órgãos internacionais de direitos humanos. Além disso, o acordo fornece mais ferramentas para a vigilância estatal de atividades on-line e facilita a cooperação entre os Estados para a coleta e o intercâmbio de dados de cidadãos, sem os controles necessários para prevenir abusos, e para a investigação de crimes “sérios” definidos por leis nacionais, mesmo se forem contra direitos humanos. Isso inclui, por exemplo, revelação de identidade ou metadados por meio da aplicação de leis nacionais problemáticas a atos como levantar uma bandeira do arco-íris, ser ou definir-se como LGBTQIA+ ou insultar um monarca nas mídias sociais.
Em sua versão atual, o tratado sobre crimes cibernéticos está longe de ser uma ferramenta de garantia de maior segurança on-line para os indivíduos e constitui uma ameaça ao exercício dos direitos humanos, especialmente para aqueles particularmente em países com democracias frágeis e um histórico de autoritarismo.
Um tratado internacional sobre crimes cibernéticos elaborado pela ONU não pode ignorar a devida defesa e promoção dos direitos humanos. Pedimos aos Estados que não cometam esse erro e adotem uma abordagem para o julgamento de crimes cibernéticos que garanta todas as pessoas do planeta o pleno exercício de seus direitos fundamentais.
Por que nos opomos ao novo tratado internacional contra o crime cibernético?
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O tratado sobre crimes cibernéticos atualmente em discussão nas Nações Unidas carece de salvaguardas robustas de direitos humanos, permitindo que seja invocado para processar e punir atos legítimos, como a expressão de dissidência política.
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O tratado de crimes cibernéticos da ONU não incorpora uma efetiva perspectiva de gênero. Isso permite a criminalização de mulheres e pessoas LGBTQIA+, prejudicando a luta pela igualdade de gênero.
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O tratado de crimes cibernéticos inclui delitos contra a liberdade de expressão, conforme advertido por vários órgãos internacionais. Isso é uma contradição com a própria missão da ONU: um tratado que legitima violações de direitos humanos não pode ser aprovado.
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O tratado sobre crimes cibernéticos que está sendo discutido nas Nações Unidas legitima a vigilância estatal das atividades on-line para a investigação de qualquer crime, cibernético ou não, mesmo se tais crimes forem contra os direitos humanos. Facilita a cooperação entre os Estados para a coleta e o intercâmbio de informações pessoais dos cidadãos, sem salvaguardas suficientes para evitar abusos contra o exercício dos direitos fundamentais.
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Em sua forma atual, o tratado sobre crimes cibernéticos está longe de ser uma ferramenta para garantir maior segurança on-line para os indivíduos e constitui uma ameaça ao exercício dos direitos humanos, especialmente em países com democracias frágeis e históricos de autoritarismo.
Quais são os requisitos que um tratado internacional sobre crimes cibernéticos deve atender?
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Um tratado sobre crimes cibernéticos deve garantir maior segurança on-line para todas as pessoas, defendendo e promovendo o exercício dos direitos humanos.
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Um tratado sobre crimes cibernéticos deve ter uma perspectiva de gênero interseccional efetiva que permeie cada um de seus artigos, garantindo que as normas contribuam para a realização dos direitos humanos e da igualdade de gênero. Isso inclui disposições destinadas a proteger os direitos de pessoas historicamente excluídas, como mulheres e pessoas LGTBIQA+.
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Um tratado sobre crimes cibernéticos deve abordar a especificidade do crime cibernético, fornecendo soluções concretas e úteis para um problema real, em vez de disposições vagas que podem ser usadas para processar ações legítimas na internet.
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Um tratado sobre crimes cibernéticos deve garantir a limitação dos poderes do Estado para monitorar atividades on-line, bem como para coletar, processar e compartilhar informações pessoais dos cidadãos com outros Estados, a fim de evitar abusos.
Essas medidas são fundamentais para qualquer regulamentação internacional sobre crimes cibernéticos, especialmente uma criada nas Nações Unidas. Sem elas, o processo não deve prosseguir.
O que você pode fazer para ajudar a garantir que o tratado de crimes cibernéticos da ONU garanta os direitos humanos?
Precisamos de você! Nesta etapa do processo, sua ajuda é fundamental para informar e conscientizar sobre os perigos apresentados pelo tratado sobre crimes cibernéticos em sua forma atual e a necessidade de incorporar uma perspectiva sólida de direitos humanos. Você pode fazer isso da seguinte forma:
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Publique informações sobre o tratado sobre crimes cibernéticos em seu site, blog ou mídia social. Se precisar de ajuda, você pode copiar ou adaptar os textos que preparamos, bem como as imagens para as mídias sociais.
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Entre em contato com seus representantes políticos. Conte-lhes o que está acontecendo e peça-lhes que exijam que o país mantenha um compromisso irrestrito com a defesa dos direitos humanos. Você pode usar as minutas que preparamos, se precisar de ajuda.
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Entre em contato com a imprensa e peça que informem o público sobre o que está acontecendo na ONU com a discussão sobre crimes cibernéticos. Se quiser, você pode usar o comunicado à imprensa que preparamos.
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Se você tiver outra ideia, por favor, use-a. E conte-nos o que está fazendo, pois queremos acompanhar as ações e apoiá-lo no que for necessário. Escreva para nós em info@derechosdigitales.org.
Recursos úteis
- Quer fazer uma campanha nas mídias sociais? Confira nossas mensagens sugeridas. Você pode adaptá-las de acordo com suas necessidades. Faça o download delas aqui.
- Além disso, você pode acompanhar as mensagens com as imagens que produzimos. Faça o download delas aqui.
- Deseja entrar em contato com a imprensa? Você pode usar nosso modelo de comunicado à imprensa e adaptá-lo como quiser. como achar melhor. Faça o download aqui.
- Precisa de mais informações? Você pode consultar os seguintes documentos:
- Site oficial: Comité Ad Hoc de Ciberdelitos de la ONU.
- Coluna: Por qué el nuevo tratado sobre cibercrimen que se discute en la ONU nos pone en riesgo
- Coluna: El tratado sobre cibercrimen que se discute en ONU amenaza al ejercicio de derechos en línea
- Estudo: When protection becomes an excuse for criminalization. Gender considerations on cybercrime frameworks
- Relatório: Latest UN Cybercrime Treaty draft a ‘significant step in the wrong direction,’ experts warn
- Declaração pública: Cybersecurity Tech Accord expresses continued concern over latest draft of UN Cybercrime Treaty, calls for extensive changes
- Coluna: UN cybercrime treaty: A menace in the making
- Relatório: Cibercrime e direitos humanos: os perigos do Tratado da ONU
- Notícias: Newest UN cybercrime treaty draft slammed
- Coluna: UN: Draft Cybercrime Convention remains seriously flawed
- Coluna: Latest Draft of UN Cybercrime Treaty is a big step backward
- Podcast: Would the proposed UN Cybercrime Treaty hurt more than it helps?
- Estudo: UN Cybercrime Treaty: Summary of the Global Initiative-TOC’s key positions.
- Coluna: Los Estados tienen la obligación de reforzar y no poner en peligro los derechos humanos
- Coluna: Solicitamos a la ONU garantías de derechos humanos en tratado de “ciberdelincuencia”
- Coluna: Las ruedas que mueven al mundo: el futuro tratado de “ciberdelincuencia” de las Naciones Unidas